Você é vento forte de outono, que bate no rosto como um sopro frio, depois de um longo verão. Varre as incertezas e passados, trazendo finalmente sentido a passagem do tempo.
Chega com cheiro de algo novo e excitante, energiza todo meu corpo e por um momento eu lembro como é flutuar com os pés bem fincados no chão.
Me pega pela mão, pelos dedos, pelo coração. Canta o meu nome numa melodia que eu consigo entender e de certa forma me traz paz. Chega numa ventania que consegue acariciar minha alma com calma e carinho, ao mesmo tempo que bagunça com impetuosidade todas as minhas certezas.
Me conquista pelo toque, pela adrenalina, pelas mãos quentes que desenham um caminho segue cada linha mal desenhada do meu corpo.
Então vem a surdes das noites em que o silêncio é alto demais, e a respiração pesada no meu ouvido é quase um grito de alívio por estar ali com quem deveria/queria estar. Aquele momento (sobre)vive através da madrugada, parando as horas, encaixando os espaços dos corpos, misturando a saliva, o suor, os desejos e os medos, tudo parece de repente se unir para fazermos poesia de movimentos.
Me fita com olhos que me devoram aos poucos e me vêem sem enfeites, dançam em mim como se já me conhecessem. Reconheço e leio pelo toque, pelo cheiro do suor quando o quarto fica pequeno e quente demais, pelo beijo que me passeia, esquentando o frio, sussurrando melodias no meu ouvido.
Por esse outono me apaixono cansada, me apaixono cambaleante e com todos os medos guardados na bagagem de mão pesada. Outono que traz a transição, o frescor e a emoção de, enfim, viver uma nova estação, sem falsos enfeites, sem passados, sem outros. Só o nós.