domingo, 22 de novembro de 2020

Novembro

O tempo ultimamente tem passado rápido demais por mim, escorregando por dentre os meus dedos e, de repente, me deixando com uma baita bagagem pesada pra carregar. Um peso que me encurva as costas, encurta os meus passos e me segura aos poucos. 

O quanto era mais fácil antes, quando as experiências eram inéditas e o medo de repetir velhos padrões não existia. Tudo em mim, hoje, é receio de de certa forma estar andando em círculos, girando e girando em torno de um mesmo erro, aos poucos esquecendo de mim mesma lá trás. 

Dia após dia eu repasso todos os meus traumas e crio novos, alimento-os. Parece que todas as palavras já foram ditas e eu apenas vivo de repetições, da falta de criatividade, falta de atitude. Como saber quando recomeçar num lugar novo, em uma pessoa nova? Depois de todos esses anos acreditei, ingenuamente, que tivesse as respostas pra tudo, que fosse claro o que fazer e como fazer. Onde entrar e ficar, mas principalmente saber quando ir embora; nunca me enganei tanto, nada está a salvo a esta altura.

Cansada de viver de mentiras, constantemente me questionando se isso é ou não verdade, se essas palavras são para mim ou se foram ditas para outras. Cansada e me sentir dia após dia pequena e menos eu. As vezes penso que me quero de volta, mas para ser sincera, quem fui eu afinal? Não estou escolhendo nada diferente do que escolheria anos atrás. Estou vivendo os mesmos padrões com pessoas diferentes, me deixando em segundo plano, me adaptando à situações que não mais me cabem, que doem mais do que aparenta. São lágrimas que eu já chorei, são humilhações que eu já senti e ainda assim peguei a mesma estrada. 

Minha mente nublada me convence de que agora é diferente, que agora eu consigo reconhecer uma armadilha quando estiver prestes a entrar em uma, e, assim, conseguiria facilmente sair dela. Eu duvido muito. Amor é viver de lembranças pesadas demais, me sentindo sempre menos que outras, que elas? Amor é não ter certeza se seria eu mesmo que ele escolheria depois disso tudo? E por que eu, então?

As músicas cantadas foram pra mim? As declarações eram apenas pra mim e se não forem, de que valeram? a ideia de "deixar ser" é o que me pega pela mão e me faz andar cada vez mais pra frente, evitando pensamentos duvidosos, evitando me questionar muito sobre estar ou não escolhendo o certo. 

Com o tempo até a inspiração para escrever se perdeu, junto com o falso ideal de amor, parceria. A falsa sensação de amor correndo nas minhas veias, saindo pelos dedos, escrevendo com o coração, com a alma, sem as confusões que insistem em fazer parte de quem eu sou agora. Histórias se misturam, passados se entrelaçam e acumula a quantidade de neuras que a minha mente consegue suportar e processar. E quem eu sou, depois de ser completamente contraditória, pisar em cima de todas as minhas certezas, ser só mais uma, e aceitar essa condição?

Vamos lá, amor magro, desnutrido, dure tempo o suficiente para me convencer de que valeu a pena o tempo gasto. Dure o suficiente para que eu consiga ressignificar quem você se tornou pra mim. Como escrever um texto de amor decente quando estou sempre lembrando do que você fez, com quem fez, quando fez e por que fez. Por que fez?

No fim, o amor nunca é o suficiente, não é o bastante e, decididamente, é um ideal criado pra suprir a carência de estar sozinho consigo mesmo. 

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

 Passei bons anos buscando me ajustar novamente, procurando ver em mim o amor que todos falavam, que todos me diziam para aprender a ter. Aprendi a brilhar sozinha aos poucos e tive muitos percalços. Por dias eu tive medo e chorei até faltar todo o folego. 

Vivi um amor que tirou de mim boa parte do que eu acreditava ser puro. Tirou de mim todos os sentimentos inocentes que se perdem inevitavelmente com a idade, acabei deixando escorregar cedo demais. Me dei para estranhos, bocas sem nome, sem história. Corpos secos que só precisavam de mim por um momento, um instante, mas não preenchiam absolutamente nada. e tudo bem, foi bom e potencialmente divertido por um tempo, até que o medo bate mais uma vez. Mas então, oras, como me sentir autossuficiente se o tempo todo preciso de alguém pra me reafirmar, pra me amar, pra me querer e mostrar isso?

Tenho vários problemas comigo mesma que construí com cuidado por muito tempo. Criei uma fundação solida, dificilmente quebrável, nem por chuva nem por vento. Construí um muro com toda a insegurança que já passou pela minha mente, por toda dúvida sobre mim mesma que eu já tive ao olhar no espelho e alimentei como se fosse alguém a beira da morte por desnutrição, doente. Alimentei tudo que me destruía por dentro por acreditar ser, de alguma forma, um alento, uma aliada para encher a boca para dizer "sou extremamente madura por colecionar dores e rancores, mais nada.". Onde essa maturidade me levou, afinal? Um beco aparentemente sem saída, no qual todos os fantasmas do passado me encaram me perguntando do que valeu, se eu continuo igual? 



Eu mesma me amaldiçoei. 

segunda-feira, 6 de janeiro de 2020

04/01 - o fim

E de um momento para o outro todos os objetos ao redor se ressignificam e lembram algum momento que só faz reforçar a ideia de que talvez nada tenha que acabar dessa forma.
De um dia pro outro até olhar fixamente pra uma parede descascada faz pensar no que foi perdido e no tempo investido e no que fazer daqui pra frente. O que se faz quando se tem o coração partido mais uma vez? Parece já de praxe superar alguém que decidiu ir, ou neste caso, decidiu não ficar.
A perspectiva do que poderíamos ter tido me machuca mais do que o esforço que eu estou constantemente fazendo para não pensar nos dias que passei nos seus braços. Projetar tudo que seriamos, mas de maneira unilateral me leva a vez ou outra segurar bem forte a vontade de chorar até faltar ar, porque, droga, eu achei que dessa vez iria. Mas eu sempre acho isso, não é verdade? no fim eu sempre acredito que "dessa vez é o certo" e nunca é.
Etão eu volto aos velhos padrões, tudo para ter uma falsa sensação de superação, tudo para me convencer que eu consigo viver muito bem sem me sentir amada, sem ter pra quem ir no fim da semana, no fim daquele dia cansativo. E eu me digo para ter paciência,  digo que tudo ficará bem, mesmo que eu não faça ideia de para onde ir agora e muito menos depois, quem eu sou então? quem eu tenho que encontrar? e se não encontrar?
eu coleciono mais corações partidos do que pares de meia que somem no meio do meu guarda roupa constantemente bagunçado, eu coleciono histórias e em certo momento elas começam a ficar bagunçadas dentro de mim e eu não sei mais em qual focar, qual dor é a que realmente lateja, qual é real. Por quem eu sofro agora?