E eu virei as costas, com um beijo no rosto e um abraço meio dado. Fui embora com palavras engasgadas e meus dedos vazios, de novo.
Naquela hora que eu me virei eu deveria ter dito o quanto eu estava disposta a tentar, mas que eu precisava que ele quisesse tanto quanto eu. Deveria ter batido na cabeça dele até entrar o fato de que isso, a gente, eu e ele poderia dar muito certo. Deveria ter dito que todo meu corpo se arrepia quando ele beija meu pescoço daquele jeito, que encontrar conexão em alguém é quase raro, algo que -deveria- ser aproveitado. Poderia ter mostrado o tanto de vezes que eu falo do seu nome pra qualquer pessoa que me rodeia até que eu mesma acabe me entediando, paro e mudo de assunto, andando em círculos, voltando para o mesmo ponto. Eu devia ter dito que não me serve beijar, transar com quem quer que seja, se eu verdadeiramente queria que fosse com ele, mesmo que fosse pra quebrar a cara depois.
Era pra eu dizer isso e muito mais, mas ao invés disso, eu simplesmente o beijei na bochecha, respirei bem fundo no seu cangote só pra guardar o seu cheiro e fui embora. Fui embora como quem não deixou nada lá, como quem não estava chorando por dentro por perder algo que nem se quer teve.
Talvez tenha sido melhor, sabe? Realmente, talvez nem déssemos certo e doesse mais do que vai doer agora, mas eu pagaria pra ver. Eu pagaria pra ter mais 4 meses e ver até onde conseguiria ir. Daria tudo pra saber se isso ia dar certo, se o sexo ia continuar intenso, se os beijos iam continuar esquentando todo meu corpo, se eu ainda iria sentir a sensação extasiante de algo novo, se ainda ia achar a coisa mais linda quando ele sorri espontaneamente, se ainda ia sonhar com aquela cara de prazer e segurar a sua mão quando deitasse a noite.
Queria só ter a certeza que tudo ia implodir, ou não.
Virou errado querer tentar? não posso deixar de sentir até um pouco de raiva por não ter nem uma chance se quer, como se nem valesse o risco. Mas não se pode cobrar sentimento, nem vontade, nem reciprocidade de ninguém. É importante ser pé no chão o suficiente pra saber até onde vale a pena, até onde é o limite. Sinto muito por ele que não se sinta da mesma forma, sinto muito porque porra, na minha cabeça, tinha muito pra dar certo e se não desse, bem, as lembranças estavam aí pra fazer história.
A verdade é que sempre fui melhor com cortes bruscos, que dói agora, dura um tempinho, mas depois passa.
Só -quase- passa a pontinha de tristeza por nem chegar a se tornar um "nós".